quinta-feira, 14 de junho de 2012

A Noiva

Em finos véus, e em toda aquela alvura,
Sombria, alva, delicada e deslumbrante;
Pranteia só, nos mármores da sepultura,
Alma silente triste, saudosa, dilacerante...

Alma tristonha, aguarda por um cortejo,
Serena tão só, feito uma flor abandonada.
Flor serena, que nas ânsias de um desejo,
Devota amor além, rosa murcha desolada!

Nos mármores frios, derrama-se em prantos.
Nas sólidas criptas, tão lúgubres, funéreas,
Ainda resta um beijo vertido por tais encantos...

E com as flores e tanto amor, para junto celebrar,
Unidos eternamente em pompas de uma exéquia,
Aguarda o seu eleito, que as flores hão de enfeitar!


sexta-feira, 18 de maio de 2012

Ainda Sinto

Neste tumular recanto, quando tu partiste,
Lembro tua rósea face, ainda me sorrir!
Lembrança d’outrora, amarga, e tão triste,
Vagando em meus sonhos ao longe partir...

Por entre murmúrios de tão dorida prece,
Que nestes versos transcrevo na solidão;
Sinto que um anjo do céu se enternece,
Na sombra da cruz projetada no chão...

Ai... Quando vem a noite a me torturar,
Sinto teu rosto bem junto ao meu;
E teus lábios doces a me oscular...

Ouço ainda teus passos mansos e solitários,
Inda avisto teu vulto d’angélico, aonde eu;
Chorei nos mestos sepulcros mortuários...




domingo, 22 de abril de 2012

Minha Rosa Virtuosa

Eis que esta alma dormente, imaculada,

Qual alma divina, infante, maravilhosa;

Foi a doce virtude, angélica, agraciada,

Ungida em perfume, suave, duma rosa...


Nesta face mórbida, angelical, amargurada,

Verto uma ternura, e uma prece fervorosa;

Que acolho n’alma, plangente, martirizada,

Nos braços da paixão dessa Via Dolorosa...


Anjo adormecido, e anjos abençoados,

Junto aos céus tristonhos, tantalizados,

Minh’alma chora, na dor deste cortejo...


Sinto-vos nos mistérios insondáveis,

Recônditos divinos, santos, inefáveis

Doces aromas, sonhos, e outrora beijo!



segunda-feira, 9 de abril de 2012

Anjinhos



Anjinhos, anjinhos, anjinhos! Santos anjos são!
Ao mesmo tempo tão singelos, cândidos e pueris...
Sinto-os murmurarem dentro do meu coração,
Ao contemplar nas lápides, tantos rostos infantis!

Oh que dor, mas ao mesmo tempo quanta ternura!
De onde vem todo este sentimento que me enlaça,
Que toca minh’alma, como bálsamo da desventura;
Como os beijos, ou como um céu que me abraça?

Oh! Que doce tristeza, angelical e amorosa,
Evocando em mim feito uma prece dolorosa;
E adoçada, nas mais profundas harmonias...

Anjinhos! Sinto-vos nos mistérios insondáveis
Como num consolo dos plenilúnios inefáveis
E das nuvens serenas, evocando nostalgias...






quinta-feira, 5 de abril de 2012

Minha Agonia

A dor que rasga, que atormenta e que tortura,
Que trucida meu corpo e minh’alma inferniza,
É a dor que me ilumina, é a chama obscura,
É a dor que não acaba, é a dor que me castiga!

Sinto a dormência, em meu peito magoado
Transpassado pela dor, em profundo sofrimento
Sinto tanta dor, em meu corpo alquebrado
Que em prantos eu procuro, sufocar este lamento

Então peço a Deus que me alivie, Ele me ouvirá?
Que afaste de mim esse cálice amargo!
Grito desesperado em vão, quem vai me salvar?

Pelo Vale da Sombra da Morte eu hei de passar
Só eu e mais ninguém, nessa dor infinita...
Passarei por ela sim! Quero, devo! Irei triunfar!



“Yaveh é meu pastor; nada me faltará.
Faz-me repousar em pastos verdejantes;
Conduz-me às águas de descanço.
Elle refrigera a minha alma,
Guia-me nas veredas da justiça por amor do seu nome.
Ainda que eu ande pelo valle da sombra da morte,
Não receiarei mal algum, porque tu és commigo:
O teu cajado e o teu bordão, elles me confortam.
Deante de mim preparas uma mesa na presença dos meus inimigos;
Ungiste com oleo a minha cabeça; o meu calix transborda.
Unicamente a bondade e a misericórdia
me seguirão todos os dias da minha vida,
E habitarei na casa de Yaveh por longos dias”
(PSALMOS 23)


A BÍBLIA SAGRADA
 TRADUCÇÃO BRAZILEIRA 
DE 1927


sábado, 17 de março de 2012

Neste Jazigo

(À Isabela)

Menina! Tu’alma trêmula, febril e imaculada,
De tão suave meiguice, cândida, derradeira;
Era flor da tenra idade, tão feliz e alvissareira,
Que agora jaz sublime entre flores, adornada!

Ah... Que dor fatal, e de sentimentos oriundos,
Vertidos desse chão memorial e transcendente;
Angelical e pesaroso, mas singelo e comovente,
Que arrasta a alma nestes mármores profundos!

Paira um sentimento nesta prece amargurada,
Donde tu’alma, serena, tranqüila, descansada,
Repousa das convulsões, doridas e tenebrosas!

Sentimento amoroso, uma doce transcendência,
Nestes pélagos sagrados de misteriosa essência,
Invadem minh’alma, nos perfumes destas rosas!


Este túmulo é da menina Vida Machado, que morreu em 2002, aos nove anos, vítima do vírus HIV e órfã dos pais biológicos, foi um dos mais visitados do Cemitério Municipal São Francisco de Assis, o maior de Florianópolis, no bairro Itacorubi.
*Colaboração de Elisiana Castro


segunda-feira, 5 de março de 2012

Lacrimas

Em meus olhos as lágrimas que ora sinto
Dos meus sonhos de amor e da noite fria
São os consolos amargos do que pressinto
De tua ausência, e um beijo que me nutria...

Ah... Nesta noite, soturna, desconsolada
E estas lembranças de atroz melancolia
A lua vem, tristonha, e amargurada
Vem merencória, soturna e fugidia...

É um sentimento, angélico e arfante
Silencioso, tremendo, dorido, louco
Que n’alma pulsa saudosa, apaixonante...

E eu que sempre adornei teus passos
Com estas mãos e agora abandonado
Sinto um amor, sem vida, e sem abraços...