quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Menino da Fotografia

Quem és tu, menino tristonho e lacrimoso,
Que como a sombra de outrora nesta visão;
Aflora em meu coração, pueril e doloroso,
Com versos em prantos e uma doce ilusão?

Foram teus soluços, todos os teus prantos,
Nas noites de outrora em taciturno gemido;
Que geraram as flores, os poemas, encantos,
Em um coração dilacerado; soturno, ferido!

Fotografia envelhecida, que n'alma abrigo,
E um sonho dilacerado, sofredor e antigo,
Que escondo no coração silencioso, denso...

Descortina a noite de um céu flóreo, risonho,
No silêncio desta minha dor, e deste sonho,
Para ascender a um esquecido amor imenso....




domingo, 6 de julho de 2014

Lacrimosa Lua

A amplidão da noite, solene esmaeceu,
Por este chão, sagrado e transcendente...
Pois tu’alma, que tristonha adormeceu,
Acolhida foste, ao Cristo eternamente...

Para mim o que era sonho terminou,
E em meu peito o coração esmoreceu!
Como lírio, que o teu corpo enfeitou,
No crepúsculo, a minh’alma feneceu...

Crepúsculo como véu no fim da tarde,
Na envolvência de minh’alma agasalhar,
A Lua é a ante-sombra  que me invade...

Ó lua, tristonha! Que palidez a tua!
Teus prantos em minh’alma se derramam,
Meu consolo, meu amor, Ofélia nua...





sexta-feira, 21 de março de 2014

Lírio da Minha Dor


Lírio da minha desventura, ó lírio!
Sinto minha vida se esvair agora,
No leito que me acolhe por ora,
Envolto em dor e profundo martírio...

Já próximo da minha despedida,
Chega à alma uma doce inspiração;
Do amor nascido em meu coração,
Desta vida, sofredora e combalida...

Nesta palidez augusta, d’aurora,
Resta à minha alma, embora;
Rogar aos céus numa prece divina...

Lírio da minha dor, esmaecido jaz,
Nestas mãos que a Deus compraz,
E que minh’alma, conduz e ilumina... 

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Farol das Almas

Certas noutes, brumais, dos plenilúnios,
A lua alva no aconchego dos negros véus,
Visão medonha, sagrada e dos eflúvios,
É a visão, sacrossanta dos ermos céus...

Há um mistério, que encanta e arrebata,
Que no ardor dessa santa contemplação,
Faz da lua um mistério que Deus retrata,
As santas almas, que jazem hoje ao chão...

Exuberante mas triste, paramentada,
É esta leiva que um dia acolherá,
Todas as almas da terra, iluminada...

A luz da lua atraca nos tristes portos,
Como farol, das almas enclausuradas,
Sagrada luz, angélica dos mortos...



sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Vandalismo

Oh, que dor! Que tristeza, atroz, funérea,
Ao deparar-me com tamanha profanação...
Almas torpes, vândalos da paz cinérea,
Que desça a ira de Deus, por esta violação...

Eis que as lápides, ao chão, derribadas,
Leito dos mortos, do descanso tumular,
Evocam a demência de almas ofuscadas
Pela torpe obsessão, de um valor angariar...

Almas de sina errante, infames e sem luz,
Destroem, vilipendiam, e roubam a paz,
Daqueles que jazem, à sombra de uma cruz...

Decerto são almas vis, decaídas, dementes,
A rasgar sedentos, o lúrido sacrário, 
Rastejam pela vida – Oh, miseráveis mentes...

Cemitério do Araçá em São Paulo, após ataque de vândalos

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Meu Anjo...

Quando será que acharei descanso
Neste chão de melancólicas imagens
Recanto de paz, tristonhas paisagens
Das dores, das angústias e o pranto?

Em vão busquei-te por outros portos
Por entre as dores e sôfregos martírios
Por entre as dores de insólitos delírios
No amontoado de escombros e corpos...

Com a morte no estupor navego,
Nas congeladas magnólias enxergo,
Entre catalépticas visões de um sonho...

Nestas rimas de púrpura desolada,
Minh'alma febril, plangente, fatigada,
Repousa enfim do estertor medonho...


sexta-feira, 24 de maio de 2013

Anfitriã Eterna

À espreita a morte conosco vaga, 
Desceremos junto ao sombrio leito... 
Até findar-se a aventura amarga, 
Nos infortúnios, e por ela eleito... 

Para enfeitar, as flores serão estampa 
Que o pranto verte no amor a alguém... 
Vestido em terra que agora acampa, 
Com uma prece e findando Amém... 

Óh manto escuro do além profundo! 
Abrigo taciturno de tão sublime paz, 
Sonhos findos, sem rumo, sem norte... 

Invólucro humano despe do mundo! 
Eis que agora, e pra sempre jaz, 
Em baixar ao leito a soturna morte...

Imagem: Cemitério Consolação - São Paulo