sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Medos

Certa tarde, ao acompanhar meu filho ao funeral de um senhor idoso, e enquanto ele dedicava algumas palavras à família num culto ecumênico, senti um desejo em conhecer o recinto sacro doutras capelas, situadas no interior da necrópole.
Foi quando por um momento, e ali meditando no porvir, na vida, na morte e além, perdi a solenidade e o cortejo...


Naquela tarde na necrópole
Sozinho, sem mais ninguém,
A procura das pessoas
Num desencontro total...

Perdi a solenidade e o cortejo!
Perdi-me nas quadras e lápides
Somente o silêncio permeia,
As flores e sepulcros também!

Caminho a esmo...
Perco-me, no trajeto.
Onde estavam todos?
Senti certo medo!

Bobagem, eu sei!
Medo de quem já se foi?
Medo faz é dos viventes!
Senti um soturno silêncio...

Os espíritos que se foram,
Sei o que diz o Santo Livro!
Mas senti um calafrio,
Post Mortem talvez...

Voltei de onde parti
Gelado, tremulo tácito...
Recompus-me ao ver alguém,
Voltei de novo em mim...

Algumas canções ouvira...
Decerto melodias breves.
Doutros tempos passados, creio,
Tornando-se hinos celestes...


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Coração Imortal

Nesta pétrea imagem de singela afeição,
Isolada nos báratros de trágicos flagelos,
Verti em meus sonhos o amor e a paixão;
Tornei-te princesa dos contos mais belos!

A tua volta a poesia se abanca e chorosa,
Com seus cantos tristes de soluços e dor,
Vem como brisa suave, soturna e jocosa;
Vem nos suspiros tristonhos de um amor!

Nesta história dos meus sonhos lendários,
Vou escrevendo nas portas dos santuários,
Este poema de um bardo e sua doce ilusão...

Com os soluços de lágrimas e tanta ternura,
E com este amor que diviniza e transfigura,
Sepulto meus sonhos com teu coração!



quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

À Uma Flor Morta

Ó que dor em minh’alma, quanta ternura,

Carrego neste amor, lutuoso, desconsolado!

Diante de tua face, mórbida d’amargura,

Carrego uma tristeza, soturno, dilacerado!


Cobrirão tua noite, os véus de melancolia,

E aconchegar-te-á nos ornatos da sepultura...

Serão vagos momentos que a noite acaricia,

Teu corpo amortalhado, rosa da desventura...


Vão nestes prantos, sentimentos, puros, eleitos,

Que hão de te ungir com essências de uma flor,

Junto com anjos, sublimes, augustos, perfeitos!


Por entre os enlevos que as rosas hão de deixar,

Evolvem-me lembranças singelas de tanta dor,

Num rosto adormecido de um anjo a descansar.




segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Anjo Acolhedor

Lá nos pélagos da terra, no mais fundo,
Lá no seio acolhedor das nossas vidas,
Ouço murmúrios d’anjos pelo mundo;
Como o murmúrio d’almas esquecidas!

Ouço teus clamores santos imaculados,
Como os soluços dos prantos pelo frio,
Ouço ainda os prantos ocultos velados;
Como prantear secreto de águas no rio!

Foi do amor mais puro esta rosa agraciada,
Do consolo e dos esquecimentos tardios,
E dos anseios de minh'alma apaixonada...

-Anjo que harpeja pelos céus sonolentos,
Com teu vulto sacrossanto e amoroso,
Dá-me dos teus doces acalentamentos!

Foto de Juliana Bragança - Cemitério da Consolação, São Paulo

sábado, 14 de janeiro de 2012

A Mortalha

Nesta noute, exéquias dos funerais,
Minh'alma dorida pranteia um luto.
-Que esta beleza descanse em paz,
No seio dum anjo, bondoso, augusto.

Envolve este corpo dolente amargura
Com veste tristonha, tão fina mortalha
Parece a imagem de uma sacra figura
Que o manto funéreo à morte agasalha

Desce este corpo ungido com flores
De virginal e pálido encantamento 
Na campa fria, leito dos amargores.

E uma alva mortalha de atroz isolamento
No silencio angustiado de minhas dores
Reveste a lua, tristonha, e este lamento...



quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Inefável Amor

Minha amada, que enlevo te faz divina
Como flor de fúlgidos encantamentos
Encarnada nos doces acalentamentos
No êxtase carnal que arrebata e alucina?

Fizeste das formas e aromas de enleios
As sinfonias do ocaso, anjos d’alvorada
Relíquias imortais, bendita, apaixonada
E a fina Flor, dos mistérios e devaneios.

Alma das almas meu singelo abrigo!
Meu amor, seio augusto, consolo amigo
Meu bálsamo, perfume cândido sagrado...

Junto às fontes, de amores insondáveis
Estarei contigo, nos mistérios inefáveis
Com meu coração ardente, apaixonado...

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Murmúrio de Adeus

Num último adeus, as lágrimas rolando
Beijo agora, a pálida face da minha rosa,
Olho para trás, ermo, e a alma chorando,
Adeus! – murmuro – Fenecida, virtuosa!

E uma imagem pétrea, angélica, fitando,
Como que intercedendo a Deus rogava!
Parecia tomar minhas dores pranteando,
À minha saudade, que eu aflito levava!

Parece este anjo enxugar-me os prantos
Com seu vulto consolador e os santos
A embalar-me em suas asas acolhedoras...

Olho, porém ao céu, com um olhar incerto
Hoje fúnebre, e a esperar meu leito deserto
De inspirações, melancólicas, vindouras...